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Mensagem Amazônica

Nós Pontos de Cultura da Amazônia, organizados e articulados por meio da REDE AJURICABA – Rede Paraense de Pontos de Cultura e do GT Amazônico da Comissão Nacional de Pontos de Cultura reunidos virtualmente usando software livre vimos nesse noite de 8/12/2022, dia de Nossa Senhora da Conceição e de Iemanjá, através dessa Mensagem, nos manifestar ao GT CULTURA da Comissão de Transição do governo Lula.
Muito foi debatido, e esta Mensagem seguirá em forma de propostas, estratégias ou mesmo enunciados que foram verbalizados por aquelas e aqueles que vivem e convivem em nossa região (e também convidados), para que possam ser aderidas ao escopo das propostas de retomada da Política Nacional de Cultura, e da Política Nacional Cultura Viva; ei-las:

1) O processo de formação dos Pontos de Cultura deve ser de forma constante, perene e intensiva, e que a interação técnica com profissionais em áreas mais específicas como o audiovisual, por exemplo, é muito bom, mas é de extrema necessidade se valorizar nesses momentos também o saber periférico, o saber comunitário, o saber daqueles que estão em nossas comunidades. O correto é colocá-los em constante interação, tecnicidade e comunidade;

2) Compreender os conceitos de Comunidade, de Cultura Comunitária, e de Ponto de Cultura na Amazônia é necessário. Aqui temos comunidades e Pontos de Cultura que são em bairros, em ruas, entre vizinhos, em escolas, e em ongs, mas também em quilombos, em agrupamentos indígenas, em escolas de samba, em galpões, em cozinhas, em terreiros de carimbó, na beira do rio, e também em ambientes virtuais, como as comunidades da cultura digital, uma amálgama sem fim de pluralidades e diversidades que devem ser todas consideradas quando da proposição de politicas culturais nacionais;

3) Na Amazônia, o conceito de Cultura Viva é indissociável da questão ambiental. Cultura e Ambiente são dimensões inseparáveis da vida. Em nossa região os modos de ver e viver, nossas práticas e cosmovisões tem mantido vivo nossos ambientes por tempos, e essas formas de viver tem sido cada vez ameaçadas por megaprojetos de exploração que desconsideraram essas realidades quando de sua implantação, e por isso nos devem retornos socioambientais. Acreditamos que a Cultura Viva terá grande contribuição ao debate da relação Clima e Amazônia, nos fóruns globais;

4) Precisamos expandir a Cultura Digital na Amazônia, precisamos de conexão de qualidade, de formação, de centros de pesquisa e empreendedorismo, de telecentros e infocentros, de acessibilidade.

5) Valorizar os conhecimentos e práticas tradicionais, comunitários, periféricos e populares nos processos de formação, gestão e proposição de políticas públicas, e a interação entre universidades, academias de pesquisa e comunidades é cada vez mais necessário;

6) Sobre a Politica Nacional Cultura Viva precisamos retomá-la, refazê-la, resignificá-la. Muito se fez, muito se avançou, mas em alguns aspectos vamos “retomar a estaca zero”, como por exemplo, na questão das prestações de contas dos projetos, onde o excesso de burocracia e tecnicidade exigida dos Pontos de Cultura inviabiliza a conclusão contábil e fiscal desses, os tornando inadimplentes e os criminalizando. Precisamos da prestação de contas simplificada, tendo como base a comprovação do cumprimento do objeto, com os resultados e produtos culturais gerados por estes;

7) Os Pontos de Cultura são pontos de liberdade e de democracia, foram e devem permanecer na vanguarda da defesa dos direitos humanos universais, se colocando sempre na linha de frente do combate ao fascismo;

8) Precisamos de justiça tributária e socioambiental, a tributação sobre prêmios é descabida, isso não é renda, um mestre ou mestra ao ganhar um prêmio, o faz sobre o fato de esta socializando vivências, culturas, formas civilizatórias, é em reconhecimento à sua vida toda, e não somente à dimensão do trabalho, então não está relacionado à renda somente;

9) Entender a multiplicidade de vidas e realidades que vivem e convivem na Amazônia é premente, e para isso os e as amazônidas precisam estar nas instâncias de decisões e de poder, mas do que sermos ouvidos queremos participar!

10) O custo amazônico é verdadeiro, fazer arte, cultura e educação na Amazônia é mais caro! nos é mais caro, em todos os sentidos;

11) E por fim saber que não existe uma Amazônia idealizada, romantizada, um “paraíso verde” existem várias Amazônias, que são sim rurais, mas que são predominantemente urbanas, somos todas, todos e todes ribeirinhos, mas que vivemos em cidades, cidades essas que carecem enormemente de desenvolvimento socioambiental e de politicas sociais, precisam de esgoto, água tratada, escolas, creches, postos de saúde, de trabalho e renda, precisamos de desenvolvimento sustentável. Isso nos faz lembar das palavras do professor Paes Loureiro em “Cultura Amazônica: uma poética do Imaginário” dizendo que não há dissociação entre realidades urbanizadas e rurais, ambas são ribeirinhas (todos nós vivemos entre o rio e a floresta), e convivem quase sempre com os mesmos conflitos e contradições próprios dos processos de urbanização nas grandes e médias cidades da região amazônica.
 
Assinam: Pontos de Cultura da Amazônia